Margaret Thatcher
e a dama do lotação
A primogênita do coruja aqui diz ao telefone: “Pai, tenho assunto
pra crônica.” Já que, sob pressão de leitores, tenho que voltar a esta página,
aceito a sugestão.
Em ônibus de Senador Canedo, cidade do
chamado entorno de Goiânia – assim como mulheres são o entorno de mim (ah, quem
dera...) –, uma dama de lotação aprontou o maior berreiro.
Sim: o leitor não se lembra, considerando que trato somente de efemeridades e não de efemérides, mas já relatei, em crônica
do ano passado (1998, esclareço, pois não sei em que edição esta merda vai
sair), o caso do sujeitinho que num ônibus premia genitalmente o traseiro de
uma senhora com maridão ao lado.
Não vou perder tempo e espaço contando
a história. Se o leitor estiver mesmo interessado, que adquira um exemplar do
jornal com o André, que sem dúvida vai ficar putíssimo por ter de tentar
localizar a crônica em 125 edições.
A mulher, que na certa não era nenhuma
Margaret Thatcher... Ah, por falar na dama de ferro, que não é a do lotação:
publicação inglesa que traz o sugestivo nome de Erotic Review fez
pesquisa das mais relevantes. Quis saber quais eram, na opinião dos leitores,
as 50 personalidades de maior sex-appeal deste milênio.
O leitor já vai adivinhando. Pois é,
a Thatchona arrecadou o quarto lugar, surrando até Brigitte Bardot.
Eh inglesada de gosto miserável. Aliás,
pesquisa anterior revelara que o homem inglês trepa rapidinho. Talvez – por não
gostar muito ou não saber gostar da coisa – queira desincumbir-se loguinho da
“tarefa”.
Agora, meu amigo... Sentir tesão por
aquela estrada de ferro desativada... Acredito, sinceramente: se a pesquisa
fosse entre brasileiros, resultado desses teria sido só de gozação, assim como
(da mesma forma que) um dos melhores cartunistas do Brasil, Almir, do Diário
da Manhã, gosta de dar uma gozada em cima da Mãe Dinah.
Peraí, Almir, peraí. Você sabe que falo
no sentido de deboche. (Falo?)
Abuso sexual. Nisso é que dá o emprego
abusivo de palavra-ônibus.
Ah, sim. No ônibus de Senador Canedo, a
mulher que se sentira ofendida desmoralizou neguinho sofredor.
Será, pergunta-se o leitor, será que
ele era um bolina desajeitado? Se o leitor realmente se faz esta pergunta é
porque leu a citada crônica e aprendeu, já que nela consigno a opinião de que o
ato de bolinar deve ser levado com arte.
Mas, cara, deu-se o contrário: foi a
mulher que se esfregou no homem. Ela aprontou porque ele reagiu, estrilando.
A fêmea atrevida revelou-se cruel: “É o
primeiro homem que vejo num ônibus que não gosta de ser roçado por mulher”,
debochou em voz muito alta para que todos ouvissem.
“Esse aí é ‘diferente’”, continuou a
implacável. E repetia: “É o primeiro homem num ônibus que não gosta de ser
roçado por mulher.”
Ela não seria nenhuma Margaret Tatcher,
pois a macacada, como se despertasse, começou a vibrar: “Roça em mim, roça em
mim, roça em mim... não roça nele, roça em mim.”
O coro foi-se afinando. Não demorou e a
macacada sem-vergonha já havia adaptado letra na música gravada por Leandro
& Leonardo: “Roça pra mim, não roça pra ele... roça pra mim, não roça
pra ele...” E lá se foi o ônibus, alegremente sacolejante.
Não sei se a ideia dada por uma de
minhas filhas é aqui bem aproveitada. Aliás, as meninas ficam com essa de me
dar ideias mas ainda não decidiram o que fazer com os quatro recém-paridos da
Letícia, a gata de que elas me botaram para cuidar. Ô natalzão, este.
Bem. Volto a esta página triunfalmente,
nos braços dos leitores. Mas sei lá.
Hamilton Carvalho
(Gazeta de Goiás, nº 126,
26/12/1999)
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