quarta-feira, 26 de agosto de 2009

Bastos cabelos cacheados ombros abaixo e calça boca de sino, Hamiltão era o dono do pedaço. Pelo menos, é o que ele insinua...


Ação de resgate na piscina do clube

Não sou lá muito de entrar em piscina e, quando entro, não saio da parte rasa, onde ficam as crianças e os bocós que nunca aprenderam a nadar.
Mas era grande a propaganda do clube, cheio daquelas falsificações de rusticidade, bar em galpão circular coberto de palha, mesas de roda de carro de bois, chão de terra batida coberto de cavaco. E a piscina.
(Esse negócio de coisa típica nunca me enganou. O dono do lugar economiza grana com projeto mixuruca e cretinos frequentam a falta de conforto e segurança para dizer que dão importância às coisas da terra. Uma espécie de tendência do momento, que não dura mais que boteco de mauricinhos em centro “revitalizado”.)
A piscina era também circular e tinha as laterais forradas com madeira e o fundo coberto com pedrinhas brancas. Parecia mais um tanque, sem parte rasa, e a profundidade recomendava juízo.
A vantagem é que a água era corrente e evitava que neguinho ficasse o tempo todo mergulhado na mesma Echerichia coli. (Ô Sena, é assim que se escreve essa merda?)
Ah, leitor impaciente, já vou colocar mulher na história. Realmente não dá para ficar descrevendo clube de picareta ou pintando natureza-morta em papel de jornal.
Ela era quente, quentíssima. Aliás, mulher fria ou morna naquela terra morreu há muito tempo ou acabou de morrer.
Apesar de virgem – coisa que a gente relevava –, a espevitada baixou no terreiro aqui do mocetão que ainda não deixei de ser. (E aí, tendencioso leitor? Dá muito bem para entender quem era virgem. Só pode ver dubiedade no texto quem é dúbio.)
Como ela – não é que eu duvidasse – se dizia intacta sendo ao mesmo tempo cheia de vontade, nossas relações eram, digamos assim, parassexuais. A película ficava ali, esperando a noite de núpcias. (Com outro, naturalmente, porque comigo a garotinha fazia mesmo era free lance.)
Dona de bela carroceria, ela usava uns shortzinhos reentrantes que me deixavam louco, a girar em torno do mesmo tema. Afinal, se o problema era cabaço...
Bem, como dizia.
Era dia de curtir a ressaca de ano-novo. Dois amigos conspiraram para me dar alegria e apareceram lá em casa com a namoradinha do bonitão aqui e uma amiga.
Hoje, olhando com o olhar frio da distância, penso que aqueles amigos não eram muito chegados a carne feminina. Pois não é que passei o dia inteiro praticamente namorando as duas?
É claro que elas, tão amigas, compartilhavam o que era bom, modéstia à parte. Desculpe: era não – é.
Os amigos ficavam só enchendo a lata e fazendo gracinhas inconsequentes, o que levava garota a passar ao largo de nossa mesa. Sim, ia esquecendo de dizer: já estávamos no clube.
Depois de muito Drury’s com sorvete de morango (o uísque foi camuflado na C-14 que eu dirigia), a dupla de prováveis misóginos começou a exagerar nas brincadeiras.
Chegaram ao absurdo de me jogar na piscina – na qual me recusava terminantemente a entrar –, com roupa, óculos, sapatos e documentos. E cigarro aceso.
Foi quando o impossível aconteceu. Nadei, e nadei de causar inveja ao Xuxa (isto é lá nome de macho; me obrigou a usar o artigo, coisa que em minha terra não se usa antes de nome próprio, pois quem tem colhões não é dado a intimidades). Os óculos foram resgatados por um mergulhador entusiasmado.
E a minha dignidade, quem iria resgatar?
Encurralado em mim mesmo pelo riso geral, vi a coisa piorar. A namorada, vindo à tona de fundo mergulho, ao me ver ensopado de cabo a rabo, vilipendiado por aquela turba ignara, aderiu e abriu a boca em borrifante gargalhada.
Com isso, a dentadura postiça que ela usava – ploc! – varou a superfície da piscina e foi ao fundo. A farra foi total. A molecada fez a festa e passou a disputar para ver quem conseguia recolher a peça mordedora, então inofensiva entre calhaus.
A água, agitada por sucessivos mergulhos, ficou para lá de turva. Apesar de todo o entusiasmo, não foi possível encontrar a prótese, que se confundia com as pedras.
O responsável pelo clube sugeriu que voltássemos em dia reservado para a limpeza, quando a busca poderia ser feita com calma.
E aí, debochado leitor? Por causa de uma piscina, a amada passou o feriadão de boca mole, sorrindo à maneira de La Gioconda. Mas não posso dizer que a falta de dentes tenha propriamente prejudicado as nossas relações. Não, não posso dizer.

Hamilton Carvalho
(Gazeta de Goiás, nº 53, 5/4/1998)

quinta-feira, 20 de agosto de 2009

Dois textos altamente lúdicos e educativos


Nada mais que um simples e pequeno playground

Era apenas um playground, desses que se veem em qualquer condomínio. Mas, como ultimamente ando contemplativo e um tanto para o nostálgico, aquele pequeno parque me arrastou a memória para um que havia em minha terra, o único que havia.
Eu tinha envergado a domingueira, camisa branca e calça cinza de tergal, bem vincada, com listas pretas que se cruzavam, e subi a rua em direção à praça da Matriz.
Praça bem arrumadinha, com canteiros floridos, bancos ao longo de caminhos e nos recessos para namorados, uma fonte orlada de cactos e encimada por uma deusa nua. Abaixo e em torno da estátua, um grupo de meninos barrigudos seguravam na ponta dos dedos a cobertura da uretra.
À noite, quando a fonte era ligada, a deusa calipígia ficava envolta numa aura de gotículas rubras, por causa dos spotlights e dos jorros de água. Os meninos despudorados, ainda que de pedra, mijavam.
De vez em quando surgia na cidade um doido se dizendo ciclista. Trepado numa velha Monark, ele se propunha passar uma semana pedalando em torno da fonte, dia e noite, sem parar.
Às vezes alguns desconfiados iam sorrateiramente à praça, de madrugada, na esperança de flagrar o atleta escarrapachado num banco. A jogada nunca dava certo – o desgraçado estava lá, seco ou molhado, mas sempre enfiado no selim.
Molhado não porque chovia, mas porque, a certa altura do dia ou da noite, sua “auxiliar” (sempre uma mulher) lhe atirava um balde de água, aparentemente sem qualquer motivo. O rapaz pedalava com moderação e o clima da cidade é ameno.
Durante o dia, aquele banho poderia até se justificar. Mas naquelas noites frias... A gente desconfiava que o balde de água era para disfarçar as urinadas. O heroico bicicletista só tomava água, não comia nada. Imagine se comesse. Seria necessário também, talvez, um balde de lama...
Na praça havia um viveiro repleto de pássaros multicolores. Nos domingos ensolarados aquele cativeiro dava espetáculo mais bonito do que telhado de presídio brasileiro em rebelião.
Pelos galhos das árvores que ocupavam em abundância os canteiros gramados, preguiças se empenhavam em seu interminável passeio e saguis barulhavam.
Mas o ibope mesmo era o minizoológico. Não por causa do pavão, ou da onça-pintada, ou do tamanduá. O Ratinho daquele espetáculo era o Macaco Masturbador. (Este era o “conteúdo” do nome que a população dera ao bicho; em texto meu isto não fica bem colocado, mas vá lá.)
O símio, com uma energia de causar inveja a galã de longa-metragem pornô, não podia ver gente que logo metia a mão entre as pernas e empunhava a binga preta e lustrosa. Com uma só mão, porque o instrumento não comportava as duas, além de o depravado precisar, com a outra, recolher pipocas ou segurar banana.
É claro que moça de família disfarçava, fingindo admirar o rabo do pavão, mas com o rabo dos olhos acompanhava os movimentos do macaco bronheiro.
Ah, sim, ali na praça ficava o parque ao qual me dirigia naquele domingo de sol, subindo a rua íngreme calçada de pedras.
Ao chegar ao parque, fiquei meio paradão, tímido, sem conhecer ninguém. Em certo momento, criei coragem e resolvi participar. Havia por lá alguns equipamentos um tanto perigosos, em que meninos parrudos se exibiam para menininhas cheias de laços e fitas. Mesmo correndo o risco de parecer maricas, escolhi o escorregador.
No momento apropriado, ou seja, atrás de garotinha de saia rodada, subi a escada do escorregador. Senti um pouco de vertigem ao apoiar o chulezento Vulcabrás na pracha, cuja madeira rebrilhava de tanto ser usada.
Me soltei e – crash! Não, leitor das páginas de economia preocupado com fundos de aplicação, não foi nenhuma bolsa de valores de Hong Kong. Foram os fundos de minha impecável calça de tergal. Pois é, havia um prego no meio da descida...
Zonzo, fiquei sentado ali, na areia quente, como se fizesse o teste da farinha. Só me dei conta de que atrás vinha gente quando um garoto gritou: “Sai daí, palerma!”
Então me levantei, meti a mão nos destroços e, meio de ré, fui chegando para um dos lados do escorregador. Naqueles tempos, naquela terra, menino de minha idade não usava cueca. Pela aragem que me refrescava o rego, senti que o estrago era muito grande e a mão muito pequena.
Mas não havia escolha, leitor penalizado. Eu tinha que ir para casa.
Sem enxergar muito, sem ouvir nada, duro, com a mão no rabo, saí do parque.
Comecei a descer a interminável ladeira calçada de pedras, que eram como pedaços reluzentes de chumbo, naquela tarde excessivamente clara, excessivamente límpida.
Foi nessa época que, precocemente – aí pelos 10 anos de idade –, ganhei a minha primeira cueca, uma cueca samba-canção.
Apenas um playground, desses que se encontram em qualquer condomínio, fez com que surgissem estas reminiscências, inúteis como todas as reminiscências. Só porque hoje ando meio nostálgico, um tanto contemplativo.

Hamilton Carvalho
(Gazeta de Goiás, nº 51, 22/3/1998)


Não se deve reclamar da falta de opções de lazer

Sem ofensa, leitor, mas um sujeito como você, que vive à toa e, quando não está fazendo nada, frequenta botequim – desses de mesa na calçada, carroça de churrasquinho junto do meio-fio –, só sabe soltar a mania de falar sobre opções de lazer babando num copo de cerveja quente.
Quando se trata de Goiânia, você acaba falando sobre nada.
Acaso, nos tempos atuais e nesta terra, esses adolescentes babacas, que se tornaram turistas de shopping center, têm alguma opção de lazer além de olhar vitrines e assistir àquelas happy hours com as mesmas músicas de Paulinho Pedra Azul ou o mesmo rock ininteligível de grupo frequentador de sebo?
Tais adolescentes jamais sonhariam o que é mergulhar em um açude cheio de marrecos, lá nos Campinhos, e na volta para casa ainda estacionar uma jega nas bordas de um cupinzeiro.
Sabem, esses garotos de pouca verve, o que é, em noites frias, passear em torno de empenada roda-gigante, a ouvir por meio da corneta de um alto-falante a voz sublime de Lindomar Castilho? Não, esses parvos mocinhos sobre patins jamais sonhariam o que é, nas ensolaradas tardes de domingo, alugar bicicleta para circular no Bairro Jurema e fazer bonito para domésticas em dia de folga.
Essa gentinha de cabeça rapada seria incapaz de imaginar a emoção de, antes do baile, diante do espelho e com um palito de fósforo no canto da boca, pentear-se ouvindo, pelo rádio, a voz potente de Eduardo Araújo: “Cabelo na testa, sou o dono da festa...”
Não sabem, os mauricinhos, o que é, em doce ócio, deitado no alto da caixa d’água e tirando meleca, observar a filha mais velha do vizinho a fingir, molemente, que lava roupa, agachada diante de uma bacia, pernas arreganhadas.
Esses garotos, nas noites cálidas, só sabem jogar video game ou, quando saem de casa, atormentar a vizinhança com o barulho de vozes na muda, coisa que abala os nervos.
Minha turma e eu sabíamos aproveitar melhor nosso tempo e nossa energia.
Às vezes, juntávamos dinheiro e íamos visitar Margarida, uma ruiva sardenta que prestava serviço, digamos, sexual à juventude transviada de meu bairro.
Chegávamos à casa daquela lacônica prostituta, sérios – quase homens –, e mostrávamos a grana. Generosa com a meninada, Margarida nem contava o dinheiro. Para ela, transformar garoto em homem era quase um ato de caridade.
Atendia com ordem e método, naquela pobre casinha na ladeira da Baixa da Égua. No pequeno corredor que levava ao minúsculo quarto, ficávamos em fila, como se estivéssemos diante de um caixa de banco. Ou, sem querer parecer blasfemo, diante de um confessionário, dada a grandeza do momento.
Na primeira vez, fiquei nervoso, mas não me apavorei. Eu e mais três garotos fomos atendidos com uma rapidez e uma eficiência de que nenhum banco é capaz.
Quando Margarida terminou com o felizardo que me antecedia, ouvi o chulap-chulap e a voz dela: “O próximo!”
Solenemente atravessei a porta, que era guarnecida apenas por um molambo à guisa de cortina. No quarto cabiam tão-somente a cama de solteiro, a mesinha atulhada e a bacia.
Margarida deitou-se. Não tirou a encardida camisola. Puxou a barra dela até os peitos. Estava sem calçola. Foi um susto quando vi aquela vasta e peluda xandanga, e não pude deixar de me preocupar com a minha coisinha em fase de crescimento.
Mas não pude meditar muito em caprichos da natureza. Margarida ordenou, impaciente: “Meta!” Apesar daquela monumental fachada, foi preciso que dois rudes dedos me ajudassem a encontrar o caminho.
Opções de lazer? Ora, leitor desiludido, eu não preciso de outra. A opção que oferece uma já despetalada Margarida existe em qualquer lugar. Até mesmo aqui. Só que muita gente não vê, por não acreditar na própria capacidade de sentir prazer.

Hamilton Carvalho
Gazeta de Goiás, nº 52, 29/3/1998)

quinta-feira, 13 de agosto de 2009

Hamiltão, quem diria, caiu no lirismo


A amada, a moto e a flor

Talvez seja uma espécie de perversão sexual. Não sei. Mas, quando eu via uma moto Honda de 80 cilindradas, o coração batia mais forte. Luzia, longilínia e calipígia, do tamanhozinho que eu calço, estacionava a moto no passeio da firma, e vê-la colocar a máquina no descanso, metida naqueles jeans reentrantes, era algo sensacional.
Ela me fazia confidências, o que me deixava silenciosamente puto. Mulher que quer dar para a gente não fica fazendo confidências. Mas me fixava naquela boca e ficava ouvindo sem escutar. (Meu deus, há certas bocas...)
Não, eu não conseguia compreender por que uma fêmea daquelas, parece que feita sob encomenda, praticamente ignorava meu sex-appeal. Já o mesmo não acontecia com o Mário Jorge, que andava musicando sonetos parnasianos de minha autoria com segundas intenções.
A cadeira em que a jovem dama fazia repousar aquela preciosa parte do corpo ficava em um estrado, em plano mais elevado. Os subalternos ocupávamos mesas enfileiradas na estreita sala. Luzia, no entanto, que trabalhava na contabilidade, ficava naquele altar.
Nos dias de confidência, eu me sentava à mesa mais próxima do altar. E dali olhava com unção para a santa de minha devoção. Ela girava a cadeira (a única giratória do escritório) e começava a falar.
Se estivesse de saia, então, era uma loucura. Meu olhar saltava da boca para as entrepernas daquele tamanho de tesão e vice-versa. Aquela boca era linda, mas só de imaginar o clitóris da amada apontado para a minha cara...
Aquela mulher comprida, de cabelos curtinhos, que já na época andava leve e solta em uma motocicleta, sabia até consertar televisão com a mesma habilidade e desenvoltura com que fraudava. (Ela, é preciso entender, apenas acatava ordens.)
No entanto, tinha enorme defeito. Aquela ferrenha lealdade a seu homem. Claro que, se fosse mulher minha, o defeito seria qualidade que ela exercitaria sem nenhum esforço.
Às vezes almoçávamos juntos. Íamos a um bandejão localizado na praça principal da cidade. Não, lascivo leitor, ela não me dava a garupa. Eu, se quisesse, que fosse a pé. De qualquer forma, era uma honra. Momentos de grande esperança. Nunca havia comido feijão, arroz e bife de mistura com tanta sensualidade.
Foi por essa época que deixei de ser poeta parnasiano e me tornei simbolista. Certa vez, num banco da praça, após o almoço, declamei impostadamente um soneto de Cruz e Sousa. Depois de eu ter caprichado na chave de ouro, ela perguntou, estupefata: “O que isso quer dizer?”
Como explicar penumbroso poema simbolista, ainda mais sob escaldante sol do meio-dia, ali, pertinho da linha do equador?
Mais tarde [Isso foi antes; aqui o autor se confunde.] repetiria a façanha em Anápolis, dessa vez declamando Cruz e Sousa, ao luar, sentado nos trilhos da estrada de ferro com uma negra no colo. Ressonando. Como vê, poético leitor, nem mesmo uma negra pôde prestigiar o bardo da Ilha do Desterro.
Mas, na fase modernista, anos depois, eu iria ter algum sucesso.
Seria bom, no entanto, não misturar as histórias.
Um dia, depois de silencioso almoço, em banco da praça cercado de luxuriantes flores, Luzia me confessou, entre lágrimas, que havia brigado com o marido. Ganhei novo alento. Não pense, leitor catastrófico, que minha alegria fosse despropositada. A dama sofria, mas botei fé de que seria um sofrimento passageiro. O mocetão estava ali, todo ombros e palavras confortantes.
Ela me contou que havia passado quase toda a noite mexendo na televisão e ele armando barraca com o cobertor. A certa altura o insaciável sujeito foi à sala, empurrou a mulher e jogou o televisor pela janela. Ela amava aquele aparelho que só vivia com defeito.
Trêmulo, tomei as lindas mãos de dedos longos e macios. Meu deus. Ela chorava e eu me excitava a ponto de exagerar. Luzia se levantou e disse que ia voltar para o escritório. Enquanto se ajeitava na moto, eu, num arroubo e sem que ela percebesse, colhi uma grande flor e a prendi na traseira do veículo.
Ah, o gesto era comovente declaração de amor. Será que ela entenderia? Lá se foi a Luzia de tantos versos, ereta e decidida, pelas ruas de Manaus.
Mergulhado em êxtase, nunca fui tão xingado de filho da puta por motoristas que eram obrigados a me salvar a vida acionando os freios. Como prestar atenção a trânsito, sinais e faixas se levava o peito carregado de amor e esperança? Como notar essas coisas prosaicas do mundo?
Mas, leitor sentimental, ao chegar à firma vi a moto estacionada, e nada de flor. Oh, Luzia deve tê-la guardado junto ao seio. Foi o que pensei. Logo, porém, eu a vi, pétalas revoltas, sobrenadando na água suja da sarjeta.

Hamilton Carvalho
(Gazeta de Goiás, n.º 50, 15/31998)

Crônica de um 8 de março. Que Deus proteja Hamiltão, o ateu


Pequenas explorações do dia a dia

De fato, as mulheres são vítimas de tremenda opressão. Sem falar das pequenas explorações que sofrem diariamente. Coisas como o marido de bermudão, espichado no sofá, pedindo cafezinho.
O infame devia se levantar, ir à cozinha, pegar o café, tomá-lo e depois – o mais importante – lavar a xícara. Isso levaria qualquer feminista a vibrar, caso não fosse negativista: “É, mas o café quem fez foi ela.”
Nas últimas décadas certas feministas têm feito a maior confusão. É que elas mesmas nunca souberam determinar o que combater. Ou o que conquistar.
Algumas das que conheço vivem em estreitos círculos pensando que a tarefa delas se resume em educar companheirinhos, e não perdem pretexto para dar suas lições em público.
Certa vez, em São Paulo, fiz reservadamente uma brincadeira quase ingênua (para o meu padrão), e uma então respeitadíssima líder nacional baixou sermão de acordar gigante adormecido. Eu dissera apenas que ela estava vestida com roupa ideal para tirar com os dentes. Qual o machismo que há nisso?
Assédio? Sinceramente, eu tinha coisa muito melhor para encarar. Aliás, feministas aqui de Goiás andaram recuando na questão do assédio sexual. Até distribuíram panfleto tentando nos convencer de que, no fundo, o que elas queriam mesmo é ser cantadas.
Afinal, haviam botado tanto terror na negrada que nenhum macho queria ir parar em delegacia de mulher só por reivindicar o que elas estavam doidas para dar.
Já imaginou gato no cio caminhando pelo telhado sem miar, esperando intervenção divina para inseminar a fêmea? Quem não mia não papa. E o miado pode ser mesmo sossegada bolinadinha à mesa de boteco.
Interessante é que os machos emudeceram e elas ficaram mudas no que diz respeito a matar mútuas vontades. É que, como é de secular tradição, elas acreditam – mas não sabem que acreditam – que a iniciativa tem que ser do homem. Só que, se o homem iniciar e houver alguém por perto...
As bravas combatentes perderam precioso tempo de luta e de prazer com esse negócio de assédio. Lembro-me de um caso de repercussão nacional. Em festinha de confraternização, lá pela alta madrugada, depois de entornar umas tantas e dançar coladinho, pezinho-de-rabo inocente pediu carona ao chefe.
No carro, sozinhos, o clima estava formado. Pelo menos foi o que pensou o jovem chefe, sexualmente em perfeitas condições (suponho), como teria demonstrado ao fazer o banalíssimo convite: “Vamos a um lugar tranquilo para que possamos nos conhecer melhor?”
Veja que elegância! A mocinha, no entanto, recusou, ato pelo qual não se pode condenar ninguém. Ainda com elegância, ele disse que estava tudo bem. E a levou para casa. E a casa era a dela. Não pediu nem beijinho de despedida.
Mas eis que, a partir do dia seguinte, o abominável chefe, qual tarado de festinha de aniversário de criança, estava na boca do mundo e, principalmente, na de feministas.
A tese era a de que, pelo simples fato de ser chefe, o celerado cometera atroz assédio sexual. Portanto, delegacia e humilhação pública para aquele desgraçado portador de hormônios.
Mas, como eu dizia, elas sofrem pequenas explorações que, do ponto de vista de princípios, não são menores do que a exploração de que são vítimas nas relações de trabalho. A “classe” masculina já se libertou e os homens não deixam o “gênero” feminino se liberar.
Não dá para enumerar as pequenas explorações do dia a dia. É na sala, é na cozinha, é no banheiro. Mas na cama o sujeitinho pia fino, porque ali é território dela. Quando ela diz “Não dou”, não há cão que faça a danada afastar os joelhos.
A não ser uma boa negociaçãozinha. É dali, da cama, que saem umas maravilhosas férias na casa da mãe dela (à qual o infeliz é obrigado a ir, pois, se não for, a mulher fica por lá mesmo), um par de sapatos, um vestido e até mesmo uma caderneta de poupança, isto é, se sobrar algum.
Nossas queridas são, de fato, oprimidas, humilhadas e exploradas por nós. Mas, no dia de homenageá-las, abrandemos nosso espírito machista. Elas merecem, além do amor, um pouquinho de festa, embora este dia deva ser de luta e de conscientização.
É claro que quem me conhece sabe que não lhes presto homenagem apenas uma vezinha por ano. Dedico a elas todos os meus dias e, principalmente, todas as minhas noites. Acontece que, ingratas, elas nem sempre correspondem.

Hamilton Carvalho
(Gazeta de Goiás, nº 49, 8/3/1998)

segunda-feira, 10 de agosto de 2009

Hamiltão dá uma de crítico

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A arte (quase) invisível

Vá lá que eu me dê o direito de falar sobre arte, coisa que até Miguel Jorge faz. Mas a coisa aqui está mais para tratar de suposta bravura de um homem (bem...) do que para lamber outro burro.
Na verdade, a ideia de escrever sobre valentia surgiu exatamente do pensamento de que bolinar é arte. O conhecimento é tácito, mas a bolinação é largamente praticada, embora não seja tão visível quanto a arte de Siron Franco, que, aliás, se instalou na Bahia para concorrer com a dança da bundinha, a arte baiana por excelência.
Não, bolinar não é arte visível, mesmo porque ela é, por definição, um esporte furtivo. (Aqui parece que me atrapalho: esporte ou arte? Mas não me atrapalho, já que parto do conceito de que futebol é arte, ao contrário do golfe, por exemplo, ou do sumô, momentos em que bunda de homem consegue ser mais feia ainda.)
Conheci no Rio um rapaz sério, de bastos bigodes (o dele e o do namorado), que adorava bolinar em ônibus. No carnaval, então, era o maior êxtase, com os coletivos superlotados e a macacada já meio para o desregrado. Só que Flamínio (nome fictício) bolinava em marcha à ré.
A menção desse antigo colega de trabalho me faz lembrar do quanto ele era artista. Certa feita eu lhe dissera que gostava muito de bacalhau e, poucos dias depois, ele me comunicou que iria preparar uma bacalhoada especial, especialmente para mim, já que o namorado estava viajando. Não que eu duvidasse do talento culinário de Flamínio (nome fictício), mas recusei o convite.
Confesso, ruborizado, que já andei dando as minhas bolinadinhas no cinema. Lembra-me uma vez. Matinée (a sessão da tarde; a da noite era soirée – o povo de minha terra tem mania de francês). Era naqueles tempos em que se frequentava cinema. Nos fins de semana era só lotação esgotada, independentemente do filme.
Entrei na sala de exibição já com pose adequada, mecha de cabelos brilhantinados na testa, e localizei a vítima. A entrada da sala – como a saída – ficava do mesmo lado da tela. O cinema já estava quase lotado e a garotinha se sentava em uma das cadeiras do fundão. Sentei atrás dela e comecei a elaborar minha obra.
O primeiro passo consiste em se fazer notar. Então, inclinei-me e perguntei as horas. Em vez de me informar, ela apenas disse, dando uma espiada por cima do ombro: “Faltam cinco minutos.” (Claro que o verbo não foi assim flexionado.) Momentos depois, voltou-se e deu outra olhadela.
Na arte de bolinar, a segunda olhada significa (mas é bom não confiar muito) que o objeto do desejo vai partilhar da nossa luxúria. Se isso não acontecer, desista de ser artista e vá rimar em outro lugar. É preciso que se tenha a elevada consideração de que bolinar sem o conhecimento da mulher é como pintar quadros para vender na Feira Hippie.
Quando o filme começou, passei para a segunda etapa: tirei o cadarço dos sapatos e estiquei as pernas e as deixei ali, sob a cadeira da vítima. Até que, enfim, distraidamente, o pezinho dela tocou no meu pezão. Ao ficar indubitavelmente claro que o jogo começara, tirei o pé direito do sapato. Foram quase duas horas de farra – sub-reptícia, é verdade.
Faltando uns dez ou vinte minutos para o filme chegar ao fim, interrompi a função e recolhi as pernas, por dois motivos. Uma cãibra traiçoeira e a necessidade de me preparar para sair do cinema sem estar com a mão esquerda no bolso da calça.
Mas, aí, cadê o sapato? Cada vez mais sôfrego, passei a vasculhar com o pé o espaço sob a cadeira da menina. As pessoas próximas deveriam estar intrigadas com aquele sujeito posudo se contorcendo feito cobra e se esticando cada vez mais para baixo. O filme terminou, as luzes se acenderam, o público foi saindo, saindo, até que fiquei ali, a correr de fileira em fileira, a procurar, espavorido.
Então começou a entrar o público da sessão seguinte. Se algum maroto tivesse levado o sapato para a rua, eu estava perdido. O cinema era enorme e eu ali, manquitolando, com um pé calçado só de meia, e meia furada, preta, exibindo um dedão branco com unha por cortar.
Calma, leitor solidário, não entre em pânico: encontrei o sapato. Sabe onde? Debaixo da tela, perto da saída. Nessa altura, imagine, o público inteiro estava de olho em mim.
Já é hora de voltar ao tema proposto (qual?).
O ônibus estava tão cheio de infelizes que nem peido circulava entre os corpos, o que, em certo sentido, era uma vantagem. Foi então que presenciei um ato de bravura. Ou de covardia.
Uma dama, daquelas que empinam o nariz e a bunda ao mesmo tempo, firmava-se na barra do veículo enquanto um sujeitinho se firmava atrás dela, não se sabe se de propósito ou em virtude do aperto. Aí um imprevisível marido, daqueles que se defendem dos sacolejos prendendo a cabeça no teto do ônibus, abriu xingação e armou capoeira. Naquele espaço duro de gente fez-se uma inimaginável roda.
O sujeitinho esganiçou, repetidamente, bem alto e com convicção para que não houvesse dúvida: “Nem de mulher eu gosto!” E olhe que exibia um jeitão de paraíba.
Se ele mentiu para não apanhar, além de ser mau artista, era um bundão. Se assumiu antiga enrustidez diante de preconceituosos vizinhos, demonstrou que valentia não tem lado sexual. Porque conheço gente que prefere apanhar. Dói, mas a dor passa.

Hamilton Carvalho
(Gazeta de Goiás, nº 47, 22/2/1998)

sexta-feira, 7 de agosto de 2009

Pra começar, duas crônicas exuberantes


Figurinhas de linguagem

Que no futuro (remotíssimo, espero) ninguém use figura de linguagem para se referir a mim. “O cérebro mais brilhante do seu tempo”, “Um crânio fenomenal”, “Um grande coração” – coisas assim, mais puxadas para o macabro do que para o samba-enredo.
Não, não faço questão de que a posteridade (ou posterioridade, como diriam Ibrahim Sued e seguidores) – reconhecendo meus predicados – me transforme em uma parte de mim.
Embora eu goste, confesso, quando coleguinha (sexo feminino, claro) se descabelando exclama, ou melhor, urra: “Você é um pau!” (Em público, para disfarçar, elas dizem: “Você é um saco!”) Mas essa é uma exceção freudiana. E aí, no campo do freudismo, tudo se permite.
Certa vez uma garota, tão garota, me disse, num sussurro cálido: “Você é meu recorde de orgasmos.” (Ela pronunciou récorde, mas não faz mal, porque é assim que todo mundo pronuncia.) E foi então que, tentando “vencer os limites”, intentei a pós-saideira, como se quisesse – não queria, por um feito que normalmente não me exige o menor esforço – entrar naquele (ou para aquele?) livro dos relativos récordes. Não entrei.
Ah, mas se o Jaime (um dos diagramadores aqui da Gazeta que vive me difamando), mas se o Jaime acha que broxei, se equivoca. Há momentos em que o atleta tem que se levantar para tomar um pouco de água...
Desculpem. Ensimesmado em si mesmo, desguiei do assunto. Estava era falando das partes. Não as partes em litígio, lógico, porque litígio é uma pendenga sem sentido. Sem falar que “lógico” é uma linguagem de pernóstico. E “pendenga” é coisa de goiano.
Voltemos às partes. As partes do corpo que são a pessoa em referência, qualquer pessoa. No meu caso, declaro humildemente que me acusam de cérebro. Outras pessoas são (ou foram) acusadas de dedo, por exemplo. Vocês sabem, os adeptos da deduragem (ou dedoduragem). Frank Sinatra é A Voz, embora quase não se ouça a dita. Rapazinho que conheço poderia , com muita propriedade (segundo ouvi dizer, friso), ser cognominado de A Garganta.
Por fim, parece que vou entrar na razão de toda esta logomaquia.
Dando meu costumeiro giro pelas bancas de jornal, para apreciar as cores e morrer de vontade de ler (ou ver) o que as capas das publicações anunciam, dou de cara com as promissoras palavras:
“Os bumbuns mais bonitos contam o que fazem”. (Não me lembro bem se era “o que fazem” ou “o que pensam”.)
E aí são enumeradas Carla Perez, Adriana Galisteu (que é meio chulada para entrar no time) e outras.
Apesar da maneira einsteiniana de trabalhar, meu cérebro deu um vacilo e ameaçou um bruxuleio. Mas também, coitado, tão carregado de genes, clones, mutações, a carranca dos credores... Ele já anda (embora ainda não tenha pernas) preparado para tudo.
O problema não foi exatamente querer saber o que os bumbuns fazem, porque curiosidade tem limite. O que me intrigou foi imaginar aquela peça anatômica contando alguma coisa. Ou até mesmo pensando, já que nem as portadoras de tais rotundidades, pelo que me consta...
Felizmente a razão, temporariamente perdida, voltou às minhas posses. E infelizmente a parte que me toca não é a parte calipígia da Carla Perez. Ou a inteira Carla Perez, que, mais do que mulher, é uma sinédoque.
Depois de virar debate no Congresso e apelido de projeto de lei, vai transformar-se em exemplo gramatical. E dos bons.

Hamilton Carvalho
(Gazeta de Goiás, n.º 45, 8/2/1998)


Que medicina legal!

A sinceridade às vezes me comove. E é com base na sinceridade científica que hoje vou abordar mais um assunto sério. Mais sério impossível: medicina legal. Antes de mais nada, vamos à sinceridade. Em livro resgatado das ruínas de minha biblioteca encontro este registro do autor no prólogo:
“Estas aulas foram feitas especialmente para os senhores, alunos apressados e atarefados em múltiplos afazeres e matérias, sem tempo suficiente para consultar um bom livro.”
Sentiram? Vejam mais adiante:
“Elas (as aulas) não têm nenhuma novidade, pelo contrário, podem ser consideradas as piores aulas de Medicina Legal já impressas no Brasil.” Já pensaram quanto tempo a gente economizaria se Brasigóis Felício, Edival Lourenço e outros assassinos gramaticais fossem tão sinceros no prefácio – melhor ainda: na capa – de suas obras imortais?
O livro em pauta chama-se Aulas de Medicina Legal e foi escrito por um gênio de nome comprido: Benedito Soares de Camargo Júnior. Tenho aqui a segunda edição, que é de 1973 e passou por “muitas compilações e revisões”, embora continue, segundo o autor, cheio de erros. Mas, pura sinceridade, ele faz o que certos repórteres deveriam fazer – assumir.
“Eventuais falhas na elaboração do mesmo não devem correr por conta da dactilógrafa, do impressor, do compositor, do revisor ou da Gráfica D. Bosco.”
A opinião do mestre Camargo Júnior sobre a gravidez resultante de estupro é de deixar a Marta Suplicy à beira de mais um ataque de nervos. Para ele, isso tem servido de válvula de escape para quem se quer enganar. “Como é que, ingenuamente, ele vai acreditar que a gravidez resultou de estupro?”
O antigo mestre de medicina legal da Universidade Federal de Goiás confessa: “Pessoalmente só acredito em estupro de menores, o resto andou havendo uma certa conivência, mesmo que psíquica.” Ele fica indignado com “a mocinha que não quis gritar para não acordar a mãe”. “Tudo com tanta ingenuidade ou malícia que causa revolta em qualquer um.”
São saborosas as aulas de sexologia. Pena que o espaço aqui seja pequeno para a riqueza de detalhes descritivos esbanjados pelo professor, que faz verdadeira apologia do hímen, “o selo que Deus ofertou às mulheres”. Se meu amigo Pé-de-Pano estivesse por perto, blasfemo como é, diria: “O único selo que se lambe depois de colado...” Mas isso é papo para filatelista, para quem gosta de colecionar raridades.
Para falar sobre atentados ao pudor ou “outros atos libidinosos”, Camargo Júnior torna-se mais abundante que bênção na Igreja Universal. Beijo ou sucção, que “às vezes” é mordedura, assim como os “toques impudicos” (“roçar, massagens, beliscões, tapas nas nádegas, compressões, práticas masturbatórias, bolinas, alisamentos, palpações etc.”), seriam atentados ao pudor.
Mas muitíssimo condenáveis são as cópulas ectópicas, e o mestre enumera algumas: anal (sodomia, pederastia), bucal ou oral (felação ou irrumatio in oris), vestibular, interfêmora (coxas), axilar, intermama, bucovulvar (cunilíngua), dedos dos pés.
Se o professor fizesse tudo o que condena, com toda essa criatividade, viveria nos braços de enorme sucesso.
Quando se refere a impotência, ele é igualmente portentoso. Afirma que frieza sexual é causa de impotência e vice-versa. Ensina que se deve ter em mente “se a impotência existia antes do casamento ou depois dele (esposa cabeluda, corpo cheio de tatuagens de artistas de cinema ou santos)”.
A impotência, acreditem, pode ser causada até por acidentes de trabalho. (Fico a imaginar michezinho lá da Avenida Goiás botando aquilo – ou aquilo – no seguro...) O professor garante que muito marmanjo acusado de impotente está mesmo é com enganação. O sujeito pode até ser impotente, mas só “para com ‘A’ (geralmente a esposa)”. O desconfiadíssimo formador de profissionais acha que o carinha paparia todas as demais letras do alfabeto.
Existem “causas risíveis de impotência coeundi”: “um pequeno travesseiro, sujo e fétido, que o marido conserva há vinte e seis anos; uma boneca de porcelana que deveria dormir entre o casal; a presença da mãe ou irmã mais velha no quarto do casal na noite de núpcias; a luz acesa no quarto; o toco de cigarro; a halitose e a desidrose (hidrose) e, finalmente, duzentos flatos sulfídricos todas as noites”.
É realmente espantosa a precisão científica do mestre. Ele apenas não diz se chegou à conclusão de que o impotente em questão só não dá as suas furadinhas porque passa as noites contando peidos. Mas Camargo Júnior é sincero e diria, se fosse o caso, que da mulher amada todos os eflúvios são bem-vindos debaixo do cobertor.

Hamilton Carvalho
(Gazeta de Goiás, n.º 46, 15/2/1998)