quinta-feira, 29 de abril de 2010

Hamiltão, atualmente, anda às voltas com um casal de gatos... Não, não é o mesmo casal deste escatológico registro


Fidel e Letícia


Enquanto não me chega mensagem por e-mail da felina Letícia Spiller, vou bordejar por assunto desinteressante, como sempre. É claro que o leitor não precisa embarcar nessa. Este é um aviso honesto.
Certos cronistas pensam que cérebro de leitor não funciona, e assim, quando estão sem assunto, caem na embromação.
Por exemplo, há os que recorrem a citações. Existe livrinho de Stanislaw Ponte Preta sob medida.
Mario Prata já apelou para isso. Fez um nariz de cera babaca para informar aos ignorantes que o Stan da Tia Zulmira era Sérgio Porto, e mandou ver trechos de escritos do intimorato jornalista carioca. Faturou o seu à custa da imaginação alheia.
Já o degas aqui recorre a ideias das filhas.
Aliás, elas vivem a me cobrar um “romance” chamado O Gato Careca, cuja péssima inspiração me ocorreu há alguns anos. Fiz a besteira de prometer que o escreveria.
As meninas gostam muito de gato. Gostam muito de animais em geral. (Talvez por isso é que têm tanto carinho por mim.)
Só que às vezes exageram. E sobra para o bestalhão do pai.
Dias atrás me apareceram em casa com um casal de gatos “adolescentes” (elas têm cada uma...). É que onde elas moram não há como manter dois “adolescentes” cagões.
Agora os danados empestam a minha casa. Na “fase” em que eles estão, não se preocupam em dar uma chegadinha ao quintal, onde o chão de terra é mais propício que o azulejado.
A gata não sai de dentro da casa de jeito nenhum. O que ela faz é só comer, dormir e...
Já Fidel, o gato, passa a maior parte do tempo no matagal do meu “jardim”, a trepar em árvores e a correr atrás dos frangos da vizinha da esquerda (o que, aliás, é uma incoerência ideológica).
Vai ver que Fidel, que anda tão ocupado, não tem nenhuma responsabilidade pelo bosteiral que invade o meu lar. É na copa, é no quarto, é no banheiro...
 Manhã destas estava eu lá, feito flor, acomodadinho no vaso, meditabundo, quando senti um horrendo fedor.
 “Meu deus”, assustei-me, “será que cheguei a tal estado de putrefação?” Foi quando, aliviado (entenda como quiser, leitor), vi um monte de cocô exatamente onde piso ao tomar banho.
O monte era de tamanho exagerado, coisa típica de adolescente. Até no cheiro.
Recordo-me da viagem de mudança que fiz com a família, de São Paulo para a Bahia, em uma Kombi. Com o motorista, eram onze pessoas e bagagem comprimindo-se no pouco espaço do veículo. E um gato.
Quando chovia, e chovia pra valer, éramos obrigados a fechar as janelas. A cada parada, tínhamos que limpar bosta preta de gato. Ô tarefa ingrata.
Ficamos de tal forma impregnados com a fedentina que passamos a não mais senti-la. No destino, depois que retiramos os cacarecos da mudança, um dos filhos do dono do carro – na casa de quem ficaríamos hospedados – foi fazer a limpeza.
A imagem de Moreninho naquele instante está vívida em minha memória. Ele recuou, soprando furiosamente pelas narinas. Repetia: “Fum-fum, fedor de macaco... fum-fum, fedor de macaco...”
Fidel e... Ah, sim, leitor, a gata ainda não tem nome. As meninas recusaram várias sugestões. Eu, timidamente, dei o meu palpite: “Por que não Fidelina?”
Fui acusado de ter pouca imaginação.
Já que penso tanto em La Spiller, poderia conseguir a aprovação do nome de Letícia para a gata. Mas não sei. Não sei se seria uma homenagem ou uma sacanagem.
A longilínea atriz me dá a impressão de não ser tão cagona. Seria até uma brutalidade dizer que ela caga.
Ih, não tenho e-mail.
Sabe, leitor, eu quis dar uma de sofisticado, só de inveja de coleguinhas que anotam o e-mail ao pé do texto (quando às vezes o dito cujo não tem nem cabeça).
Mas se ela, a Spiller, me mandasse pelo menos uma boa e velha carta... Fico no aguardo.


Hamilton Carvalho
(Gazeta de Goiás, n.º 100, 6/6/1999)

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