Pesos e medidas
Coleguinhas aqui da Redação discutiam a
respeito de pesos e medidas. Foi há pouco, dia cinzento, alma cinzenta e
cérebro só cinza.
Eu estava bem adequado para bobices e
ideias e lembranças cretinas.
Pesos e medidas? Isto é pauta para
Inmetro ou balança de açougueiro de periferia.
Mas, como eu estava bem adequado para
diarreia mental, assaltou-me a parruda lembrança de Quincão.
A manguaça de Quincão media-se a palmo.
Calma aí, leitor fálico. Não me inclua entre certos tipos de medidor.
Acontece que a turminha costumava bater
bola num campinho lá do Bairro Jurema, que a gente chamava de Bajurema.
Corruptela assim, meu irmão, só na minha terra.
O parrudaço em questão era um moreno de
coco redondo, nádegas fartas e soco moralizador. Não era mais alto do que esta
pálida e insulsa figura. Mas era mais largo, muito mais largo. Sempre lustroso,
por causa do eterno suor.
Não era estampa muito atraente, digamos
assim. Digamos assim porque nunca fui de achar macho atraente.
Aliás, há sujeitinho, pretensamente
integrado no espírito do tempo, que afirma não ter qualquer receio de achar
homem bonito. Não teria nenhum complexo, nunca fora mordido por cobra. Mas que
é coisa de veado, lá isso é.
Até mesmo li em revista ou jornal, em
texto feito por alguém que supostamente portava colhões na bolsa escrotal, que
o corpo do homem é mais bonito do que o da mulher.
Era desses sujeitos que têm teorias.
Segundo ele, o corpo da mulher, com
aquelas formas arredondadas, com reentrâncias, elevações e curvas suaves,
estava mais para o antigo. Já o corpo do homem, anguloso, enfibrado, teria
design moderno, instigante.
Um esteta, o cretino.Um artista
teorizador, ou seja, um chato de galochas. Ou simplesmente um veado.
E o Quincão, leitor desnorteado?
Bem. Ele era daqueles caras que reduzem
o ambiente a sua pessoa, daqueles que se impõem com seus modos grosseiros e
aptidões estranhas.
Quincão adorava, por exemplo, organizar
concurso de peidos, com várias categorias: sonoridade, cheiro, umidade...
No entanto, ele parecia viver
mergulhado em profunda tristeza, com aqueles gestos vagarosos, olhos
melancólicos.
Depois da pelada no Bajurema, a
molecada mantinha a tradição: com pinto entre polegar e indicador, enfileirados
lado a lado diante de um muro de adobes, mijávamos, um mijo para lá de amarelo,
um mijo cansado.
O líquido, batendo nos adobes, fazia
subir um odor quente, um buquê de terra e urina.
Peraí. Eu dizia que a meninada segurava
o pintinho entre o polegar e o indicador? É verdade. Menos Quincão. Sim, sim,
menos ele.
Aliás, aquele fenômeno não poderia ser
qualificado de pintinho, ou mesmo tão-somente de pinto. A coisa exigia
substantivo de peso.
Ah, sim, peso. Um dos coleguinhas,
naquele papo cheio de consequência, ponderava sobre presumível desvantagem de
ter caceta de robustas proporções, já que o peso dela (pesadelo?) também seria
considerável. “É mais difícil de subir.”
Sei não.
Fico a imaginar o volume de sangue
necessário para preencher corpos tão cavernosos. A cada ereção, o proprietário
do tacape deve ficar muitíssimo pálido.
Como eu dizia, Quincão era o único que
não segurava a coisa entre dedos. Ele a empalmava. Mas, obviamente, a mão
ficava aberta.
Após a urinada, todos dávamos a famosa
sacudidinha para eliminar a última gota. Com exceção do Quinca. Com as costas
da mão, aplicava cada trompaço no lombo marrom daquela jiboia com prepúcio – plaft, plaft, plaft.
Chega. Chega de texto miserável. Veja
você, leitor de estômago forte: ainda dizem que falo somente de xereca. Mas é
mesmo de xereca que gosto de falar. Cheio de razão e autoridade.
Dia cinzento, alma cinzenta e cérebro
só cinza, e os coleguinhas ponderando sobre lei física e convenções. Sem
querer, eu escutava, sem conseguir me concentrar na leitura de um artigo de não
sei quem a respeito de não me lembro quem.
Hamilton Carvalho
(Gazeta de Goiás, nº 76, 20 de dezembro de 1998)
Já ouvi falar que o tal cara que apreciava mais o corpo masculino era o Schopenhauer. Será que é verdade?
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