O nariz da Cameron Diaz
Se me perguntarem por que sou tão fã de Cameron Diaz, a resposta é óbvia, isto é, está na cara: o nariz dela. À parte outras partes, aquele aparelho olfativo (pelo menos o que se vê dele) me fascina.
Quando o rosto da moça aparece na tela do cinema ou em foto de revista (porque é só assim que o deus justiceiro me permite vê-lo), sinto como se houvesse algum problema de foco na imagem que se agasalha – este é o termo – em minha retina. É a sensação de um poema que, de imediato, nos convida para uma releitura.
Narizes, ah narizes de minha vida. Eu me lembro de que, mal chegado a Goiás, fiz rapidamente uma relação entre o nariz e a bunda de determinadas mulheres. A carroceria das narigudas goianas sempre me deslumbrou. É a perfeição que a minha alma tem engendrado desde a puberdade, ou bem antes dela, sei lá.
Na verdade, na verdade, nariz de mulher sempre me comove, mesmo que o danadinho esteja congestionado pelos mucos de uma gripe titânica. De todos os formatos, tamanhos e cores, são os narizes femininos que apontam o meu destino e a estrada do motel. Nesse terreno não permito que nenhum Boris Casoy venha fuçar.
No entanto, refletindo bem (porque este é assunto para profundas reflexões), chego à conclusão de que foi uma professora de matemática que me dotou com a percepção que se adaptaria tão bem à calipigidade das goianas.
A professora tinha um instrumento de fungar bem respeitável. Era enorme, e só não me metia medo quando a docente (meu deus) se sacudia a escrever no quadro-negro, com as fossas a aspirar o pó da lousa. Quando de repente ela ficava meio de banda e mirava a turma, encontrava sempre meu olhar mortiço absorto abaixo da linha da cintura dela, longe das equações. Aquela mise-en-scène de quase todo dia me transformou em péssimo aluno de matemática pelo resto da vida.
É claro que a protuberância nasal enfeitando o rostinho de uma dama pode ser feia, larga, estreita, comprida, adunca, brúxica, arrebitadinha... Aliás, em nariz arrebitado de mulher há também relação nadegal. Vê lá se ela não empina o traseirinho ao desfilar na passarela lúbrica de nossa retina, vê lá, ô marmanjo.
Ah, que suspiro profundo quando me recordo de unzinho narizinho. É tão íngreme que mais parece uma pista de skate. Lindo, lindo. De qualquer ângulo, mesmo daquele em que se divisam o septo e os buraquinhos róseos, sem nenhuma mácula de meleca.
Como dizia, não importa como seja nariz de mulher. Há, claro, gente besta que acha de botar em tudo uma questão de estética. No entanto, se o malandro for muito enjoado quanto a isso, pode tacar o travesseiro em cima, apagar a luz e virar a cara pro lado.
Não, não duvido de que a Cameron Diaz tenha talento. Mas não é culpa minha se aquele maravilhoso nariz não me deixa percebê-lo.
Hamilton Carvalho
(Notícias de Goiás, n.º 31, 25/1/2007)
[Carta de leitor – “Há alguns dias, enquanto descansava após o almoço, me caiu nas mãos o exemplar número 31 do jornal Notícias de Goiás datado de 25 a 31 de janeiro de 2007. Há nesse jornal uma crônica que merece ser comentada. O comentário não é sobre o nariz da Cameron Diaz, que realmente é muito bonito, mas sobre a linguagem chula, feia, grosseira e nada respeitosa que o autor, Hamilton Carvalho, usou em seu texto ambíguo. Na verdade o texto deixa dúvidas sobre o que realmente ele quis dizer. Se pretendia fazer uma apologia ao nariz feminino, os termos disseram o contrário. Vamos aos termos – ‘relacionar nariz com bunda, se deslumbrar com carroceria das narigudas goianas, nariz congestionado pelos mucos de uma gripe titânica, Boris Casoy venha fuçar, (seria ele um porco?), calipigidade das goianas, a professora que usava as fossas para aspirar o pó do quadro-negro, protuberância nasal pode ser feia, larga, estreita, comprida, adunca, brúxica, relação nadegal que o nariz arrebitado possui, nariz que parece uma pista de skate, sem nenhuma mácula de meleca, gente besta. E finalmente o pior: se o malandro for enjoado pode tacar o travesseiro em cima, apagar a luz e virar a cara pro lado.’ Francamente é um desrespeito, nunca vi tanto mau gosto em um só texto. A finalidade da crônica é entreter, deve ser uma leitura leve, quase um passatempo, não uma agressão. Ao final, não se sabe se o texto é sobre o nariz da Cameron Diaz, ou se é uma crítica maldosa sobre o nariz feminino, ou, ainda, se é para criticar a bunda das mulheres goianas. Um jornal precisa escolher melhor o que publicar. O respeito ao leitor deve ser uma preocupação constante. As pessoas gostam de uma boa leitura, elas procuram o jornal porque acreditam tratar-se de leitura confiável, não um festival de bobagens como esse. Em Goiás há profissionais que pensam diferente, que entendem melhor a alma humana e escrevem muito bem. Não é aconselhável preencher o espaço da página com qualquer matéria. Minha intenção é simplesmente dar um feedback e dizer que se um jornal quer ser respeitado deve veicular matérias de melhor nível e qualidade.” José Maria Bastos (Notícias de Goiás, n.º 33, p. 2, 8/2/2007)]
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