quarta-feira, 13 de julho de 2011

Na verdade, trata-se de artigo tapa-buraco em fechamento de edição de jornal. A sua inclusão aqui se deve apenas à expressão “mente cambaia”...


Sexo literário

Edição de semanas atrás da revista Veja (que está cada vez mais difícil de ler) traz texto com sugestivo título: “Escritores ruins de cama”. Não que o autor – um tal de Jerônimo Teixeira – tenha feito (acredito) algum teste no estilo alquímico de Paulo Coelho. Os escritores não seriam propriamente ruins de cama, como se fica sabendo ao entrar no corpo da matéria. Alguns, citados pelo repórter, seriam ruins para descrever cenas de sexo, apenas isso.
Toda essa besteira vem (e que o leitor de Notícias de Goiás me perdoe) a propósito de prêmio instituído na Inglaterra por gente de cérebro com um hemisfério só. Bad Sex chama-se a coisa da Literary Review.
Penso, com toda a minha proverbial (e, em certo sentido, autoprejudicial) sinceridade, que sujeitinho que é mesmo bom de cama (tópico, aliás, que não me interessa) não teria como ser bom narrador de atos sexuais de que participa, ou criador de cenas com base neles, já que em momentos assim – ou em qualquer outro – a gente não fica fazendo roteiro de sensações. Elas é que nos arrastam.
“No erotismo, os riscos de um fiasco literário são enormes”, avalia o repórter. “Um tom acima ou abaixo pode resultar em grosseria ou em puritanismo, em humor sem graça ou em solenidade risível.” Falar em grosseria em uma descrição de coito humano (mais uma vez, leitor, perdão) já é puritanismo.
Mas o que me tocou nas avaliações de Teixeira foram o “humor sem graça” e a “solenidade risível”. Com esta minha mente um tanto cambaia, fico a imaginar cena de sexo com humor engraçado: o casal gargalhando à beira do clímax. Ou então a solenidade: “Se me permite, madame, posso chegar lá?”
O moço da Veja é culto. Nem que seja de cultura google. Cita, para humilhar os ingleses, gente como a safada Safo, o pervertido Ovídio e o velho fauno Henry Miller.
Aliás, esse último aí de cima gostava de contar o que fazia na cama com suas mulheres e amantes (que, por sinal, eram também mulheres). Uma delas, a francesa Anaïs Nin, tida como boa narradora de histórias eróticas, devia ser boa só de cama. Apesar de minha imensa preguiça de ler cenas de sexo alheio, senti a barra ao encarar a tradução de Little Birds (Pequenos Pássaros, L&PM Pocket).
Com cento e quarenta e poucas páginas, o livrinho de bolso me tomou mais tempo do que Ulysses, de Joyce. Não o consegui ler de um fôlego, nem de dois, nem de três, nem de sete. Chata, com sua “delicadeza e musicalidade” de estilo (como é dito na quarta capa do opúsculo), a “precursora do feminismo” rateia principalmente na descrição das sensações dos machos humanos durante a reciprocidade carnal do amor (agora você gostou, hein, leitor?). Não entendo por que ela se foi meter nessa.

Hamilton Carvalho
(Notícias de Goiás, nº 28, p. 2, 4/1/2007)

Um comentário:

  1. Anaïs Nin! Com um nome desse essa moça faria sucesso por essas bandas...ou com as suas bandas.
    Caraca, agora fui infame pra caralho!

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