Sem presente, sem amor
Este Dia dos Namorados foi pobre de presentes para mim. Aliás, não recebi nenhum presente. Houve época...
Homem não deve viver assim, sem namorada, sem nada, abanando a mão. Há mesmo quem pague por uma boa noite de amor, mas amor sem namoro, ou namoro sem amor.
Brasileiro bestinha sai daqui para remunerar puta na França, a pretexto de assistir à Copa do Mundo. O deputado Fernando Gabeira pelo menos é franco: vai à Holanda para fumar maconha, pois lá o bagulho é “legal”
Ah, alma pura, esse parlamentar bossa-nova, como diria Stanislaw Ponte Preta... Legalista, não burla a legislação brasileira.
Nos velhos bons tempos, quando ainda não havia deserção em massa, ele deve ter proposto aos companheiros de luta armada ir aos Estados Unidos para sequestrar embaixador norte-americano.
Como sou para lá de pobre, não vou à França transar com prostituta sul-americana nem vou aos Países Baixos tirar umas baforadas. São coisas que podem ser feitas por aqui mesmo, por baixo dos panos, na moita.
Não sou do ramo (nem do caule, nem da folha), mas um baseado nesta terra exuberante não deve ser muito caro, e para ser saboreado não é preciso que se vá a um coffeeshop em Amsterdã.
Mulher então, tarado leitor. Aqui há anúncio em jornal oferecendo transa a R$ 15 ou R$ 20, serviço completo e cheque pré-datado.
Por exemplo. A equatoriana Jéssica, segundo a Folha de S.Paulo, na edição de segunda-feira [8/6/1998], tem tabela bem discriminada.
Ela atua em uma van nos estacionamentos da estrada de Ozoir-la-Ferrière, cidade de 20 mil habitantes, 25 quilômetros a leste de Paris.
É ali que a seleção brasileira faz seus treinos. Com a chegada de imbecis compatriotas deste brilhante cronista, as meninas aumentaram o faturamento.
A tabela. Um “pipe”, que em português quer dizer cachimbo, sexo oral, custa 100 francos (R$ 17). Já para o sexo “convencional” a equatoriana e suas colegas cobram 200 francos (R$ 33).
Para “pedidos mais extravagantes”, as meninas fazem o atendimento por 300 francos (R$ 50). Como o jornal não deu exemplo de pedido extravagante, fico a imaginar... a imaginar... Não, não é tão caro assim, leitor pão-duro.
Já que se trata de chão do Primeiro Mundo, elas não obrigam cliente a usar camisinha ou encarecem a tabela, como acontece no Brasil. Para umas boas cachimbadas, “tanto faz se o cliente quer usar camisinha ou não”, diz Carla, equatoriana de Guayaquil, como Jéssica. (Esse “como” não ficou lá muito bem colocado.)
Jackie, “uma das raras francesas nos estacionamentos”, segundo a Folha, é meio fatalista: “Quem está nessa vida não pode escolher.”
Nós, machos solitários, em certos momentos também não podemos escolher como e a quem amar. Ou a gente degenera ou fica com saudade de uma capa de pelve, do almíscar da fêmea, até que a amada resolva conceder a honra, depois de enfim compreender que cada uma adiada é uma perdida.
É, leitor sem inveja, estou na saudade, metido na salmoura da solidão, a cultivar pelos na palma da mão direita e às vezes infiel a ela, entregando-me à esquerda. Não, não quero ver estes pelos ficarem grisalhos, enquanto a amada não se decide.
O consolo de estar só no Dia dos Namorados é que a gente, se não recebe presente, também não dá.
Hamilton Carvalho
(Gazeta de Goiás, nº 63, 14/6/1998)
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