quarta-feira, 18 de novembro de 2009

Uma postagem, dois textos. O provinciano Hamiltão se envolve em intriga internacional



O guardanapo da Mônica

Não, não queria de jeito nenhum entrar nessa lavação de roupa suja. Mas é que, de repente, um dado novo me deixou intrigado. Diz-se que roupa suja se lava em casa, que pode ser mesmo a Casa Branca. (Nunca ouvi dizer que alguém lavasse roupa limpa.)
Monica Lewinsky não lavou certa peça do seu vestuário. Por que guardou por tanto tempo um vestido supostamente melecado pelo sêmen do presidente Bill Clinton?
Na verdade, não era para eu estar intrigado, principalmente levando-se em conta que sou notório colecionador de calcinhas. Das amadas, é claro. Não guardo minhas cuecas sem lavá-las.
Não acredito, não acredito mesmo, que Monica tivesse motivação semelhante a qualquer das minhas.
Escrevi certa vez que as peças de minha coleção eram troféus de caçador das noites cálidas. E também que o cheiro que nelas ficava retido depois de noite movimentadíssima (aquele cheiro que inspirou nome de banda baiana de música) me trazia deliciosas recordações.
Mas esperma seco, envelhecido por anos de armário... Não acredito que mulher possa, com um troço desses, ter qualquer motivo parecido com os meus saudáveis motivos.
É claro que esperma não faz mal a nenhuma garota. Existe mocinha aqui no meu pedaço que confirma.
Dia destes ela me disse, depois que elogiei a maciez de sua pele, que aplica porra no rosto com regularidade. A coisa é boa, segundo ela, tanto para uso tópico quanto oral.
Diante disso, leitor solitário, refleti no quanto temos desperdiçado o produto, que se usa sem a intermediação de distribuidoras picaretas, sem embalagem com data de vencimento adulterada.
Mulher que quer experimentar essa espécie de cosmético natural não corre nenhum risco de adquirir um verdadeiro grude de farinha. O nosso sai dali na hora, em alegres jatos cristalinos.
Agora, de verdade, será o que pretendia Monica com esperma velho? E o que deu no Clinton, que parece que não é dos que jogam o líquido fora?
Aqui pra mim, só uma coisa pode justificar a mancha no vestido daquela moça de carnuda boca. Ela deve ter feito dele guardanapo.
Fico a imaginar o líquido escorrendo da comissura dos grossos lábios... Bill, de pernas trêmulas, senta-se na cama e ela diz: “Âmi... âmi... am-mor, passe-me o lenço.”
Como ele não quer caminhar de pernas bambas até onde deixou suas roupas, que ficaram perto da porta do banheiro, pega o que está mais a mão: o vestido da estagiária.
A moça, na verdade, é uma ingrata. Mete a boca no trombone – depois de outras metidas – para fazer denúncias contra o saudável garanhão que a alimentou de sonhos e esperma.
E vem ela lá, a público, com roupa suja, não para lavar, mas para colocar nas mãos ávidas e cruéis de um promotor.
Coleguinha iludido sugeriu que talvez fosse um caso de fetichismo. Quer dizer, fetichismo de Monica e não do promotor. O sujeitinho também, que porra...
Ah, mas convenhamos. O bobão do Bill é dos que metem em cumbuca, pelo tanto que vem se metendo em escândalos. Não sabe escolher o objeto de seus extravasamentos.
Comigo não acontece isso. Além do mais, lavo minha roupa suja em casa. E amada minha, se quiser lavar roupa, tem toda a liberdade de fazê-lo no meu tanque.

Hamilton Carvalho
(Gazeta de Goiás, nº 71, 9/8/1998)


A boneca do Bill

Ah, leitor exigente, estou caindo na vala comum dos cronistas menores. É que estamos aqui em fase de fechamento de edição e não há tempo para tratar de assuntos relevantes, como sempre tenho feito.
Parece que, ao escolher um tema, passo a sofrer da mesma falta de critério de Bill Clinton na escolha dos objetos de seus extravasamentos.
Aliás, o presidente dos Estados Unidos é daqueles sujeitos que precisam de conselhos e sugestões que o livrem de constrangimentos e escândalos sexuais.
Apesar de terceiro-mundão, não tenho rabo preso (muito menos solto) e bem que poderia dar uns conselhinhos ao garanhão do Hemisfério Norte. O que não ajuda muito é o fato de que mulher nenhuma iria perder tempo me processando para ganhar algum milhãozinho de dólares.
Os objetos de extravasamento... Ora, leitor engajado nas grandes causas. É verdade que tenho me sentido desconfortável diante de determinadas feministas por usar expressões que tais. Não, é claro, como o Bill, que é um tantinho mais importante que eu.
Sou um incompreendido. Quando digo “objeto de extravasamento” não expresso nenhum sentimento de discriminação ou misoginia.
Na verdade, as mulheres são demônios que me povoam o espírito e as curvas dos vasos sanguíneos. Queimam tanto que é preciso exorcizá-las. Daí o extravasamento.
Quanto a objeto... Há mulheres que acham que as trato como se fossem bonecas infláveis.
Mas eis por onde eu poderia dar conselhos ao Bill. Boneca inflável.
Talvez seja um pouco tarde, mas ele bem que poderia adquirir uma doll que lhe servisse de (aqui não há o que temer de feminista) objeto de extravasamento.
Dias destes eu estava lendo (lendo?) uma daquelas belas e instigantes publicações que alguns desgraçados chamam de “revistinhas de sacanagem”...
A propósito. Quando miro aquelas fotos, fico pensando se não deveria ter estudado ginecologia, em vez de ter perdido tempo discutindo teoria da comunicação com o professor Sidney, o que resultou em coisa nenhuma.
Mas não, eu não teria passado do estágio sem ser acusado de assediador sexual. (Em relação ao caso de Monica Lewinsky, a situação se inverteria.)
Como estava dizendo, a revistinha de sacanagem, quer dizer, a publicação belamente ilustrada traz sugestões interessantíssimas sobre uma boneca inflável.
As qualidades dela (ou defeitos; depende do ponto de vista) se aproximariam das de uma fêmea de verdade. Por exemplo: ela teria mau hálito e a “capacidade” de peidar.
O hálito seria horrível e os flatos teriam cheiros variados, também horríveis, à escolha do amante.
Tais qualidades foram enfaticamente condenadas por certo professor especializado em medicina legal. Ah, fiel leitor, você deve se lembrar. As opiniões do professor foram registradas neste espaço, talvez na primeira crônica que fiz para a Gazeta [na realidade, a segunda, “Que medicina legal!”].
Ele dizia que a halitose e os “duzentos flatos sulfídricos” da mulher seriam broxantes. Observei que, da mulher amada, todos os eflúvios são bem-vindos debaixo do cobertor.
Com a idealização da boneca, a revista veio provar que eu estava certo.
O Bill precisa de uma igual, com um aperfeiçoamento: dentadura com encaixe que permita que ela seja retirada caso o usuário da boneca tenha receio de lesão.
Com a mulher de verdade que o Bill tem, que o apoia incondicionalmente, não haveria problema nenhum. Penso até que ela se orgulharia de cuidar da limpeza e manutenção da doll, de lavar seus vestidinhos etc.
A Hillary, penso, ficaria inflada de orgulho.
E a boneca ficaria quietinha no seu canto. No seu lugar.
Tenho certeza de que, com este texto infame, caí de vez na vala comum dos cronistas menores. Não vale a desculpa de fechamento de edição.
Desde que, no telhado, li um manual de “vida sexual” pela primeira vez, não me interesso por outra vida sexual que não a minha. E, naturalmente, a das amadas. Que, esclareço, não são infláveis.

Hamilton Carvalho
(Gazeta de Goiás, nº 72, 16/8/1998)

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