A turbulência
dos gases
Hoje,
meio caidão para o deprimido, pensei em jogar-me na Ladeira do Vento e
desentortar-me na transversal que leva ao Bar do Warllen. Mas me ocorreu este
encontro com o leitor, de quem ultimamente me vejo a esquivar. É bom chegar
aqui, é menos deprimente que dívida de boteco.
Mesmo
assim era preciso assunto, e o que bateu neste espírito conturbado me fez
hesitar. Veio de uma notícia: “Cientistas concluem que soltar gases durante
viagem de avião faz bem”.
Ora,
tema correlato me apareceu dias atrás, quando soube que povo laborioso se
preparava para lançar no mercado um tipo de calcinha (ou cueca, ou os dois) à
prova de peido, ou melhor, que filtra os odores característicos da flatulência.
Descartei o assunto.
É
que alguém havia chamado a atenção para o meu descambar para o escatológico
(embora, no presente caso, não seja bem assim, pois peido só pode ser
devidamente dimensionado a partir de questões socioculturais, além, é claro,
dos aspectos fisiológicos).
Busquei
confirmar o teor do alerta. Não fiquei muito convencido de minha suposta
escatologia com base apenas em textos como “Curva de rio”, “Zero-a-Zero”,
“Líquido e certo” e os que deixei de escrever em continuação a cada um
deles.
Peço
ao leitor que espere um pouco.
Ao
repassar sob os olhos os últimos textos aqui incluídos, dei com “Miriã”, sobre
uma garota que conheci “no bar do Uárlen”. Se o pressuroso leitor erguer a
vista até a cabeça desta olorosa crônica, verá Warllen, com dáblio e dois eles. É que ontem, a caminho da
farmácia, vi que o meu amigo botequineiro mandara colocar vistosa placa informativa
na fachada do estabelecimento, marcando, definitivamente, a existência de uma
entidade de respeito. Por isso, agora, o bê maiúsculo do bar.
Sim,
de volta. Especificamente quanto a peido, não precisei pesquisar para saber que
já escrevera texto em que toco na gasosa matéria, porque está no comecinho de Vida Cambaia (“Que medicina legal!”) e
envolve, como este, o prestígio da ciência.
O
que me deixa encafifado na reportagem de hoje é a observação a respeito do
peido feminino. Segundo “algumas das mentes mais brilhantes da área”, sob a
coordenação do gastroenterologista dinamarquês Jacob Rosenberg, o resultado do
estudo “foi uma profunda revisão da literatura científica sobre flatulência,
olhando para questões sobre por que os gases das mulheres têm cheiro pior que
os dos homens”.
É,
realmente, algo profundo, só pode. Isto porque sopra no mesmo rumo de conclusões
publicadas em 1973 por um mestre da Universidade Católica de Goiás (hoje
pontifícia) em livro intitulado Aulas de
Medicina Legal. Ao discorrer sobre causas da impotência sexual masculina, o
professor Benedito Soares de Camargo Júnior enumerou, entre outras pérolas de
brilho científico:
“... um pequeno travesseiro, sujo e fétido, que o marido
conserva há vinte e seis anos; uma boneca de porcelana que deveria dormir entre
o casal; a presença da mãe ou irmã mais velha no quarto do casal na noite de
núpcias; a luz acesa no quarto; o toco de cigarro; a halitose e a desidrose (hidrose) e, finalmente, duzentos flatos
sulfídricos todas as noites.”
Sempre solidário com a mulher, a ponto de peitar a ciência,
ponderei se a causa da impotência não estaria no fato de o homem passar as
noites contando peidos em vez de se dedicar aos ardores da paixão.
Acredito que voltarei ao assunto. A esta altura, pergunto-me
se não seria mesmo o caso de dar uma chegadinha ao Bar do Warllen.