Os “Paquitos”
O
cara simplesmente morreu.
Eu
descidinho do ônibus, caminho de casa, bateu-me no cérebro carunchado o início da
crônica que pretendia escrever: “Pelo amor de deus, que a atriz Xuxa Meneghel
não me processe.” Não é lá grande começo, mas eu tinha que fazer alguma coisa
ante o furor do leitor abandonado. Assim, como diria Zé de Alencar, estuguei o
passo.
Mas,
alguns metros depois que desentortei a esquina da estreita rua do bar do Tião,
vi uma das personagens que seria ligeiramente mencionada no texto. Então
resolvi dar uma chegadinha ao bar para saber mais a respeito dela. E a crônica se perdeu,
ou se adiou.
Em
resumo, eu iria falar de um grupo de rapazes que decidiram entrar para a
iniciativa privada. Todos irmãos, oito. Parecidíssimos uns com os outros. Só
não diria que são óctuplos por causa das pontas: o mais velho é mais alto e o
mais novo é mais baixo que a planície intermédia. Mas todos pequenos.
Por
falar em óctuplos, a “octomãe” estado-unidense Nadya Suleman é mesmo uma
desnaturada. “Odeio bebês, eles me dão nojo”, declarou com desenvoltura à
revista Touch. Ah, sim, leitor, não
podemos julgar “açodadamente”; afinal, nada do nosso DNA provém do juiz Gilmar
Mendes. Sem mencionar o fato de que ela tem o antecedente já prolífico de seis
filhos, que qualifica de “animais”. Se tomar por base a infância de dois
sobrinhos que tenho...
Bem.
Voltemos ao assunto.
Os
rapazes alugaram o cômodo pegado ao bar de Tião que antes fora o consultório
tocado por uma detistazinha recém-formada. Nos bons tempos do caça-níquel que
havia ali na área externa do bar, uma vez ela e eu... Meu deusim do céu.
Então.
Os irmãos pretendiam prosperar no negócio de frutas e legumes e, numa bela
noite de quinta-feira, instalaram, em ângulo reto, dois tabuleiros na área
coberta que abrange a frente do bar e a da sala que alugaram de Tião, a que
servira de consultório para a dulcíssima morena, na quina do imóvel, a partir
de onde, às quintas, se realiza a feira-livre noturna do bairro.
Com
preguiça de descer a comprida feira para comprar umas laranjinhas mais em
conta, resolvi me abastecer ali mesmo. Olhei para a casca ressequida das
laranjas, para as bananas empretecidas, para as beterrabas empoeiradas, para os
repolhos desgrenhados, hesitei. Eram xepa.
É
preciso que, agora, eu tome o leitor pela mão, pois a esta altura há por onde
se perder.
Não
fui eu quem apelidou de Paquitos os novos empresários do ramo hortigranjeiro. Deduz-se
logo: foi o vendeiro Tião. De início, não entendi por que Paquitos. O encanecido leitor se lembra de que os rebolativos
meninos que participavam de programa de televisão apresentado por Xuxa eram
loirinhos.
Os
ex-verdureiros (o próspero negócio durou menos de uma semana) são bem morenos,
cabelos pretíssimos e escorridos. Parecem quadrilha de bandidos mexicanos em
filme hollywoodiano. Solícito, Tiãozinho explicou.
Dada
a uniformidade da aparência, seriam versão em papel carbono dos fremebundos garotos.
Discutir quem há de?
Ah,
rapazes que eram um carisma só, os Paquitos do Tião. Em torno deles enxameavam
notórios tomadores de cachaça do pedaço. É verdade que notei a ausência de
Zero-a-Zero, que se sentiria bem à vontade naquele grupo.
No
entanto, havia um estranho. Apareceu, simplesmente, e se apegou ao lugar, e ali
permaneceu mesmo depois da dissolução da confraria. Até que, simplesmente,
morreu.
Prometo
ao leitor que voltarei ao assunto. O assunto me engasga.
Não
acredito que a Xuxa vá me processar por uso indevido da marca Paquitos. Em
última instância, conto com que as aspas no título deste texto me livrem de
advogados sedentos de sangue.
Hamilton
Carvalho